Postado em 19/02/2019 20:04 - Edição: Marcos Sefrin
Qual foi o valor total da corrupção combatida e apurada pela cruzada moralista que se iniciou em 2014?
Não existe nenhuma conta confiável. A mídia faz dupla, tripla ou quintupla contagem, a mesma propina é repercutida na entrada, no depósito, na lavagem alegada, na saída para o partido ou para o bolso. Um apanhado a grosso modo faz nos chegar a algo como R$5 bilhões, exagerando muito vamos duplicar para R$10 bilhões, um valor expressivo que justificou a mudança do regime político do País, sai a velha política e entra uma nova cuja trajetória ninguém sabe qual será.
É um valor expressivo, mas empalidece quando se apura o lucro líquido dos grandes bancos brasileiros em 2018, R$73 bilhões, dinheiro extraído pingando sangue, suor e lágrimas da economia produtiva e dos consumidores brasileiros. Desse valor, R$36,8 bilhões foram distribuídos como dividendos isentos de imposto de renda. Só uma das famílias controladoras retirou R$4,6 bilhões em dividendos isentos de impostos. O único estrangeiro entre os grandes, o Santander, maior banco da Europa e um dos maiores do mundo, tem no Brasil metade de seu valor de mercado e 30% de seu lucro global. Em nenhum outro lugar seus ativos rendem tanto, o Brasil é um paraíso para muitos negócios, não só para a corrupção.
Na outra ponta, o Tesouro Nacional pagou, em 2018, algo como R$367 bilhões de juros sobre a dívida pública, o maior item de despesa do orçamento.
Mas vejamos quanto custaria uma gestão incompetente do Estado na queima e liquidação de ativos nacionais vendidos a jato sob o pretexto sacrossanto de que assim evitaremos a corrupção. A ELETROBRAS, apresentada como quebrada, tem 147 usinas de geração de energia elétrica, a maioria e as maiores são de energia limpa, um cálculo simples de valor internacional por megawatt gerado chega-se a ativos que custariam de R$500 a 600 bilhões para construir, ativos físicos, não se agrega a esse valor das usinas como bem físico o valor imaterial da concessão que pode ser outro tanto. Só uma usina média, a de São Simão, da CEMIG, teve a concessão arrematada por R$13 bilhões por grupo chinês.
Tudo vai ser vendido a preço de banana porque assim “evitaremos corrupção”, um valor moral mas que está em rota de colisão se o comprador for, como tudo indica, o grupo Lehman, que já agora aponta a Diretora Financeira da ELETROBRAS, quer dizer, ele vai operar nas duas pontas, vai ser ao mesmo tempo vendedor e comprador, é uma lição de moralismo.
O combate a corrupção é necessário mas não justifica tudo, não justifica a ditadura, a má gestão, a ineficiência, o mau uso de recursos públicos por falta de capacidade gerencial e de planejamento, mesmo que não exista corrupção.
Sob a bandeira moralista cortou-se o financiamento empresarial de campanhas eleitorais, abrindo-se caminho para imenso desperdício de recursos públicos nos fundos eleitorais com dinheiro dos contribuintes.
Sob a bandeira anticorrupção inviabilizou-se todo o setor da grande engenharia nacional de obras públicas, todas as grandes empreiteiras que eram pontas de lança da projeção econômica do Brasil no exterior, ao apoiar políticos em outros países o Brasil ganha poder e influência, isso foi tratado como um mal e não como uma vantagem. A cegueira é impressionante, todos os grandes países criaram poder econômico através de suas empresas, os piratas ingleses tinham carta patente do Rei da Inglaterra para atacarem navios espanhóis, o Brasil vai ficar conhecido pelo moralismo. Ganhamos o quê? Santinhos?
A bandeira anticorrupção também serve para levar ao poder desqualificados que não são corruptos por várias razões, uma delas pela falta de oportunidade antecedente para sê-lo. A história política brasileira está plena de ciclos moralistas para combater a corrupção que penas serviram como troca de turno, mudança de um grupo para abrir caminho para outro. Os revolucionários de 1930 chamavam os políticos da República Velha de “carcomidos”, sem que haja registro de qualquer Presidente da República de 1891 que tenha enriquecido no poder, enquanto os “idealistas” de 1930 criaram os ninhos de famosas oligarquias corruptas, algumas sobreviventes até hoje, entraram para limpar e acabaram sendo muito mais sujos que os antigos políticos.
Comparado a países da América Latina, nem se fala de África e Ásia, os políticos brasileiros são modestos. Presidentes do México historicamente saem do poder bilionários. Que tal um Miguel Aleman, um Peron saiu da Argentina com 250 milhões de dólares de 1954, hoje equivalentes a três vezes mais, os Somoza pai e filho, Batistas, Trujillos pai e filho , Manuel Odria, Gerardo Machado, Juan Vicente Gomez, Duvalier conseguiu tirar 350 milhões de dólares, Perez Jimenez na Venezuela, não trafegaram na política sem acumular muito dinheiro.
Enquanto isso um brasileiro que ficou 24 anos no centro ou ao lado do poder, Getúlio Vargas, legou aos herdeiros um quinhão da fazenda que herdou do pai e um apartamento de três dormitórios na Tijuca.
A viúva de JK precisou vender quadros da parede para se manter, dona Dulce Figueiredo no fim da vida se tratava no SUS, Itamar Franco vivia da pensão. Outros não foram tão puros mas numa escala suburbana, de corrupção caipira, mais de aproveitamento, mordomias, epotismo do que mega fortuna.
Nada é comparável, nem de longe, aos caudilhos latinos e muito menos a uma Isabel dos Santos, filha do Presidente de Angola, que está na FORBES como a mulher mais rica da África, na casa dos 4 bilhões de dólares, tendo como profissão ser apenas filha de Presidente.
Pois em nome do combate a corrupção mudou-se o destino do Brasil, o desvio pode nos custar 200 vezes o alegado combatido, que deve mesmo ser processado, mas o mantra de que esse combate salva o País é falso, há muito mais tarefas e muito mais complexas do que essa.
Matéria feita por André Araujo
Ref.: https://jornalggn.com.br/
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