Postado em 24/07/2019 16:51 - Edição: Marcos Sefrin
Os teóricos economistas que serviram aos governos ao longo da história brasileira sempre se mantiveram afastados do verdadeiro processo econômico. A maior parte esteve próximo à gestão financeira, associada e orientada ao mercado. Para atender a sua demanda, não aprenderam a gerar riqueza, então focaram suas fórmulas no outro lado, diminuindo custos, cortando gastos, economizando riquezas.
A mudança que o Brasil precisa é através da geração e distribuição de suas riquezas. E, não existe crescimento, geração de riquezas, sem investimento. Esse investimento pode vir pela iniciativa privada da riqueza de pessoas ou pelo investimento público, advindo da riqueza de todos, por meio do Estado. Nesse caso, envolve, sobretudo, o entendimento e o exercício do conceito de nação.
É nesse momento que a velha elite econômica, detentora histórica do poder e da riqueza atua e sempre atuou. Ela é a mão que impulsiona os investimentos, mas que majoritariamente são feitos para atender seus próprios interesses, afastando a nação da riqueza e revertendo para ela própria o bônus do investimento. Além disso, ao emprestar esse recurso ao Estado ela se torna credora dele. Um credor que cobra juros e favores.
Com o aumento do endividamento interno, o Estado não consegue investir. Essa dívida vem contraída de juros e esse juros consome cada vez mais a capacidade das pessoas de entregar um pouco de suas riquezas para o bem comum, através do pagamento de impostos.
O Estado arrecada esse montante de impostos, mas endividado, passa a pagar somente juros para quem deve e perde sua capacidade de investir. O problema é que quem recebe esses juros é aquela mesma elite financeira, sobretudo os grandes bancos, que emprestaram o dinheiro ao governo. Para piorar, o dinheiro que recebem como pagamento de juros não vai para a geração de riqueza, mas sim para a compra de títulos de dívida pública, aumentando ainda mais seus ganhos e, crescendo o endividamento do Estado, criando um círculo vicioso, não virtuoso.
Isso posto, a elite econômica, utilizando do discurso dos economistas de mercado citado anteriormente, transfere ao Estado a responsabilidade que ela mesmo causou e escolhe os representantes políticos como marionetes para a articulação e atuação nas esferas legais do poder, afastando os interesses populares das decisões políticas.
O povo, desencantado com o Estado, vislumbra no discurso político do “bom gestor” associado a uma equipe de economistas igualmente reconhecida pela sua “competência”, a solução para os problemas econômicos do país.
Contudo, como já foi dito, o sistema econômico não é capaz, sozinho, de gerar riqueza. Ele precisa da nação e do apoio do Estado. Em um país com extrema desigualdade, esse processo facilita a concentração de riqueza (fundiário, financeiro, imobiliário etc) e, perpetua por gerações, o ônus da pobreza. Ela (a elite econômica) passa, então, a ser administradora dessa divisão social. Cria um muro e separa aqueles que são capazes de gerar riqueza através do trabalho, que é uma fonte geradora de riqueza, daqueles que detém os meios de produção.
Essa frágil divisão tem que ser mantida a todo custo, minando a capacidade desses trabalhadores derrubarem essa relação de dependência, impedindo que se reúnam em associações, dificultando greves e manifestações. No passado isso era facilmente controlado pela própria falta de consciência de classe dos trabalhadores e do desamparo legal em relação a eles.
Para conduzir a economia brasileira na atualidade, a elite econômica não precisa se utilizar desses subterfúgios e indisposições sociais. Basta apenas elevar os custos e impedir que essas pessoas atravessem o muro que as separa dos meios de produção.
Com os custos do dinheiro (juros) mais altos do que a riqueza que ela consegue gerar, a classe trabalhadora se torna dependente do sistema. Além disso, através do poder político e com o urgente discurso de que o Estado precisa reverter essa situação, o governo e os seus economistas convencem a população de que a solução se faz pelo “corte” de gastos. E assim, o governo vai promovendo o desmantelamento das conquistas e dos direitos populares e trabalhistas. São as tais das “reformas” e dos cortes.
Por essas razões, o trabalhador e o pequeno produtor têm dificuldade de empreender e ascender socialmente. A desigualdade se mantem como um projeto de poder e de riqueza nas mãos de poucos.
A república repete as velhas práticas oligárquicas.
Precisamos de um Estado democrático que valorize o trabalho e o pequeno produtor, como geradores de riqueza.
*Gabriel Davi Pierin é professor, historiador e escritor, autor de "Uma Estrela na Escuridão - A história do único brasileiro sobrevivente ao holocausto".
Matéria feita Por Gabriel Davi Pierin dia 23/07/2019 19:22
Ref.: https://www.cartamaior.com.br/
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