Postado em 25/06/2019 11:37 - Edição: Marcos Sefrin
Preocupação com a proteção dos nossos dados tem fundamento, mas só um algoritmo é capaz de nos proteger de um uso nocivo
Encontro sobre ‘blockchain’ no fim de semana passado, em Berlim.JOHN MACDOUGALL
Um algoritmo decide as propostas que o Google lhe oferece numa busca, sabendo pela experiência anterior o que lhe interessa realmente; outro seleciona os posts que aparecem na sua timeline do Facebook, silencia outros e lhes sugere possíveis amizades; um terceiro recomenda livros, música e produtos assim que você entra no site da Amazon. O Tripadvisor sabe que tipo de férias lhe agrada, e o e-dreams está ciente dos lugares para onde costuma viajar. O corretor automático muda o que você escreve porque às vezes sabe bem o que você quer dizer, e seu assistente pessoal lhe recorda que faz alguns dias que você não liga para a sua mãe. Tudo isso, e todo o resto, é governado por sua majestade, o algoritmo.
Esta palavra ubíqua, que nasceu como um reconhecimento ao matemático árabe Al Khwarizmi, cuja obra chegou ao Ocidente através da Espanha, também evoca uma ameaça. Na era da informação, estamos cada vez mais cientes da importância de proteger nossos dados. Com certa frequência, a mídia nos relata alguns usos perversos da informação que acumulamos através das tecnologias da informação e suas ferramentas. Os algoritmos governam os programas de computador, os buscadores e as redes sociais, os aplicativos do smartphone e as bases de dados onde estamos cadastrados. Suspeitamos que, com o algoritmo na mão, anônimos centros de poder nos mantêm sob rigorosa vigilância, a ponto de nos conhecer melhor que nós mesmos. A preocupação tem fundamento, mas quem pode nos proteger deste uso maligno é também o algoritmo.
Os algoritmos têm um vasto lado positivo e insuspeitado, porque estão por trás dos avanços da medicina, da meteorologia, da gestão ambiental e da logística
Além da tecnologia, com sua cara e coroa, os algoritmos têm um vasto lado positivo e insuspeitado, porque está por trás dos avanços da medicina, da meteorologia, da gestão ambiental da natureza e da logística que nos provê com os bens dos quais necessitamos, dos processos produtivos, do controle do tráfico, da programação televisiva e das desigualdades dos mercados. Os algoritmos permitiram o surgimento de aplicativos tão interessantes como os assistentes virtuais, tais quais Alexa, Cortana e Siri, os que lhe sugerem um possível parceiro amoroso, as que possibilitam os filmes de animação, ajudam a investir na Bolsa, traduzem idiomas em tempo real, aconselham compras de todo tipo, de viagens a seguros, atendem os seus telefonemas, medem sua atividade física ou controlam o funcionamento dos eletrodomésticos de sua casa. Além de praticamente qualquer outra coisa que imaginarmos.
De fato, o algoritmo é neutro: trata-se apenas da formalização dos diferentes passos de um processo para a resolução de um problema matemático com um fato real como modelo. São instruções ordenadas esperando a inserção de um input para gerar uma resposta. A pergunta pode ser que dose deste fármaco determinado paciente deve tomar? Como devo regular o tempo de exposição do scanner? É necessário pôr em alerta ou inclusive desocupar esta zona por risco de desastre natural? Em quantos minutos o próximo ônibus chegará? O input pode ser qualquer operação feita pelo celular, de enviar um whatsApp a fazer uma conta na calculadora, virar a página no documento que estou lendo, ou dizer à Siri que quero escutar uma canção. É uma ferramenta, assim como uma chave de fenda ou uma faca. Seus benefícios ou riscos não estão, portanto, no algoritmo em si, e sim no uso que se faça dele.
Dentro de algumas semanas, a Espanha será o palco que mostrará ao mundo toda essa matemática aplicada
De tudo isto trata a matemática aplicada, que transforma dados e algoritmos em conhecimento, em uma ajuda à tomada de decisões adequadas, em melhoras e inovações nos processos industriais ou cotidianos ou em alertas de possíveis riscos, dos que afetam à saúde até os que decorrem de uma catástrofe natural.
A Espanha será, dentro de algumas semanas, o cenário onde toda essa matemática aplicada será mostrada ao mundo. O Congresso Internacional de Matemática Industrial e Aplicada (ICIAM) é o maior evento mundial em seu âmbito. Ocorre a cada quatro anos desde 1987 e pela primeira vez chega à Espanha. Quase 4.000 especialistas de todo o planeta estarão lá para nos contar que novas aplicações conseguiram ou estão desenvolvendo. A matemática é o motor da revolução industrial do século XXI, a que está transformando o mundo ao oferecer a inteligência que se esconde por trás dos constantes e assombrosos avanços da tecnologia, a que está construindo o futuro.
Tomás Chacón, Rosa Donat e Henar Herrero são membros do Comitê Organizador do ICIAM2019
Ref.: https://brasil.elpais.com/
Ocorreu um erro de reconhecimento de sua tela. Atualize a página.