Postado em 18/10/2018 13:00 - Edição: Marcos Sefrin
Anos atrás, preocupado em mostrar a face positiva do Ministério Público Federal, diluindo a imagem arrogante que a opinião pública tinha da corporação, preparei um programa sobre o tema na TV Brasil. Convidei Cláudio Fontelles, ex-Procurador Geral da República, procurador de belíssima história no MPF. E também Alexandre Camanho, presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR).
A ANPR tem duas funções básicas. Uma delas é a de preparar uma festa de final de ano para a categoria e cuidar de questões sociais - de clubes a seguros - dos associados. A segunda, a de preparar a lista tríplice dos candidatos à PGR - uma incongruência fantástica.
Camanho não aceitou o convite, mas topou gravar um depoimento para a abertura de um dos blocos. No depoimento disse apenas que o Brasil é um oceano de corrupção no qual a única ilha de honestidade era o Ministério Público Federal.
Hoje, o Globo traz reportagem de Aguirre Talento e Bela Megale sobre as estranhas ligações de Camanho com Rodrigo Rocha Loures, o deputado federal flagrado com R$ 500 mil da JBS destinados a Michel Temer.
Quebrando o sigilo de Loures, a Polícia Federal se deparou com uma série de mensagens eletrônicas trocadas entre Loures e nosso campeão da honestidade, Camanho. Nelas, o procurador sugere nomes para o Ministério de Temer e sugere repassar informações para Temer através de Loures. Segundo a reportagem, em uma das mensagens, a ilha de honestidade avisa que tinha “assunto importante e urgente” para tratar, mas sugerindo que fosse fora do palácio, por ser “muito expositivo”.
Àquela altura, Camanho tinha deixado a ANPR e mais tarde se tornaria o braço direito da PGR Raquel Dodge. Procurado pela reportagem, admitiu as conversas mas explicou serem frutos de amizade mantida com Loures.
Segundo o relatório da PF, dois diálogos chamaram a atenção dos investigadores. Um deles, de 25 de maio de 2016, logo após Temer assumir a presidência, Camanho pede para falar com o presidente no final do dia. Disse que estaria indo conversar com o ‘Zequinha’. E informa ter muitas coisas que precisa levar ao conhecimento do presidente via vc’. Naquele mesmo dia foi noticiada a homologação da delação premiada de Sérgio Machado, implicando os principais nomes do PMDB na época, incluindo José Sarney que tem um filho de nome Zequinha.
Como muitos burocratas de Brasilia, Camanho se valia da relação com Loures para angariar prestígio com personalidades. Diz o relatório:
"Da conversa de ontem pensei: pq não chamar Francisco Rezek para a Justiça? (...)
Se o presidente quiser, posso fazer uma sondagem preliminar, para que ele não corra riscos”.
Rocha Loures responde: “Ótima sugestão! Falarei com ele e te aviso após almoço. Favor aguardar”.
Em outra mensagem diz de sua alegria, se Zequinha Sarney fosse nomeado para o Ministério do Meio Ambiente.
Mal assumiu a presidência, aliás, Michel Temer recebeu em audiência José Robalinho, sucessor de Camanho na ANPR e, como ele, habitante da única ilha de honestidade em um oceano de corrupção chamado Brasil.
A honraria se deveu ao fato do MPF ter sido ator central no impeachment de Dilma Rousseff.
Aliás, na véspera do impeachment, Camanho tentou organizar um encontro entre Temer e a equipe da Lava Jato, Na época, antes de ser convidado por Raquel Dodge para sua equipe, já era visto como homem de confiança do MDB.
Ref.: https://jornalggn.com.br/
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