Postado em 06/01/2020 09:28 - Edição: Marcos Sefrin
O evento, que contou com lideranças muçulmanas e políticas, condenou a ação comandada por Donald Trump
Sheik Rodrigo Jalloul defendeu a posição iraniana de não atacar, mas se defender e "honrar o sangue derramado" / Julia Chequer/Brasil de Fato
“Quem é o terrorista?”, questionou o Sheik Hossein Khaliloo, residente no Brasil, ao abrir o ato de solidariedade ao povo iraniano na tarde deste domingo (5), na capital paulista. Na sexta-feira (3), os Estados Unidos bombardearam um comboio militar do Irã no aeroporto de Bagdá, matando sete pessoas, entre elas um dos principais integrantes do governo iraniano, o general Qassem Soleimani.
O evento em São Paulo ocorre no mesmo dia em o corpo de Soleimani chegou ao Irã e foi acompanhado em um cortejo fúnebre por milhares de pessoas nas ruas da cidade de Ahvaz. Participaram do ato lideranças muçulmanas e políticas que vivem no Brasil, como o cônsul da Síria, Elias Bara, e o bispo da Igreja Maronita, Edgard Madi, além de representantes de organizações da sociedade civil.
Khaliloo disse que espera que os revolucionários do mundo se unam contra os terroristas. “Apesar da distância do Oriente Médio, nosso coração está com eles”, declarou. Ele comemorou a decisão do Iraque de retirar as tropas norte-americanas do país.
O Parlamento iraquiano aprovou neste domingo (5) uma resolução pedindo ao governo que cancele a assistência militar dada pelos Estados Unidos ao país, o que poderá significar a retirada das tropas. Além disso, o governo ainda apresentou uma denúncia à Organização das Nações Unidas (ONU) contra ataque ordenado pelo presidente estadunidense, Donald Trump.
O Sheik Rodrigo Jalloul, que coordenou a atividade, relembrou outros ataques de perseguição a muçulmanos. “Mas essas mortes também nos uniram aqui neste domingo para falar sobre a verdade, mesmo com nossas diferenças. O que nos faz permanecer erguidos, é honrar o sangue derramado”, defendeu.
Sobre a resistência do povo iraniano e o temor de uma guerra, Jalloul explicou que o sacrifício é entendido como um presente para os muçulmanos. “Quem sofre com a perda do general, somos nós, que perdemos uma mente brilhante no Oriente Médio, mas, em verdade, ele tem um martírio para ele garantido. Ele dedicou a vida no caminho de Deus, em uma causa no caminho da justiça. Nós não temos medo da guerra e de enfrentar os Estados Unidos, mas também não buscamos a guerra. O dever de todo muçulmano não é atacar, mas, sim, defender”, apontou.
Solidariedade
Representando o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o professor de Relações Internacionais Marcelo Buzetto criticou “a ação imperialista”. “Não é possível existir paz onde houver um soldado imperialista. A morte de alguém só tem significado quando a sua vida tem um significado especial”, apontou. Buzetto compara Soleimani ao revolucionário argentino Ernesto “Che” Guevara, ao falar sobre o papel do mártir para a inspiração e para a organização popular.
Jamil Murad, presidente do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz), condenou o que classificou como “brutal assassinato”, o qual aumentou a instabilidade na região. Ele criticou a posição do Brasil alinhada aos Estados Unidos. “A diplomacia brasileira sempre defendeu a paz. Essa decisão viola a Constituição Federal, que prevê a autodeterminação dos povos”, avaliou.
Edição: Camila Maciel - Julia Chequer - Brasil de Fato | São Paulo - ,5 de Janeiro de 2020 às 19:43
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