Postado em 18/04/2019 09:18 - Edição: Marcos Sefrin
Novos dados mostram que a contaminação da água por agrotóxicos disseminou-se no país. Leia também: a Saúde perde com o Brasil fora da Unasul; o Ministério Público reage contra o Decreto Anti-participação – e muito mais
BEBENDO VENENO SEM SABER
A água de um em cada quatro municípios brasileiros estava contaminada por um conjunto de 27 agrotóxicos no período que foi de 2014 a 2017. E o problema escalou nesse intervalo, passando de 75% para 92% os resultados positivos para a presença desses venenos. O número poderia ser ainda pior, já que num universo de 5.570 cidades, 2.931 não realizaram nenhum teste nesse período.
Os dados são do Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano do Ministério da Saúde e foram destrinchados pela Repórter Brasil e pela Agência Pública. As informações vêm das companhias de abastecimento, obrigadas a testar a presença de 27 pesticidas. E em nada menos do que 1.396 cidades foram detectados todos eles. Dezesseis compostos são considerados extremamente ou altamente tóxicos pela Anvisa, enquanto 11 estão associados a problemas como disfunções hormonais e reprodutivas, malformação fetal e câncer.
O estado onde mais se bebe veneno é São Paulo. Por lá, 500 dos 645 municípios tinham na água o coquetel com todos os 27 pesticidas. Incluindo a capital. Em segundo lugar, aparece o Paraná, com 326 cidades afetadas, seguido por Santa Catarina, com 228.
O SUS, contudo, não monitora a interação entre as substâncias, só a sua presença. “Os agentes químicos são avaliados isoladamente, em laboratório, e ignoram os efeitos das misturas que ocorrem na vida real”, explica a toxicologista Virginia Dapper. Com isso, a população é vítima de duas injustiças: beber água contaminada e não saber que foi essa a causa de eventuais doenças.
Os jornalistas denunciam que, embora todas essas informações sejam públicas, nada disso é divulgado de forma compreensível pela população. A reportagem disponibiliza um mapa interativo em que é possível pesquisar se no seu município foram encontrados agrotóxicos, quantos e qual a concentração na água.
OS ANEIS E OS DEDOS
Ontem, Jair Bolsonaro recebeu o presidente do Conselho Federal de Medicina, Carlos Vital. Ele apresentou uma pauta de reivindicações. Entre elas, a criação de uma carreira de Estado. A categoria sonha com uma carreira nos moldes do Judiciário. Já existe uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nesse sentido. O CFM tenta convencer o governo a apoiar a PEC. Tem chances, já que Bolsonaro apresentou ideia parecida quando era candidato. O Conselho também quer abocanhar a coordenação do Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos. Hoje, o Revalida é coordenado pelo MEC. A mudança – não é preciso ser gênio para antecipar – tornaria as coisas ainda mais difíceis para quem opta por fazer a formação no exterior. E para ter total controle do mercado de trabalho, o CFM também quer que o governo reconheça o sistema de “acreditação” de escolas médicas que criou como o oficial.
AGORA É OFICIAL
Era esperado: o Brasil oficializou sua saída da União das Nações Sul-Americanas, a Unasul. Foi dado ontem o primeiro passo formal para deixar o bloco, criado para integrar os países do subcontinente, incluindo aqueles que a gente nunca ouve falar, como Suriname e Guiana. Até então, ficava aqui, no Rio de Janeiro, a sede do Instituo Sul-Americano de Governo em Saúde (Isags). A saúde era tão importante que desembocou na criação dessa estrutura formal de cooperação. A outra área que mereceu tamanha deferência foi a defesa. A Unasul, a partir das reuniões organizadas pelo Isags, foi importante para articular posicionamentos conjuntos dos países da região, fortalecendo sua posição em fóruns como a Assembleia Mundial da Saúde.
TRAMITAÇÃO A JATO
Foi instalada, ontem, a comissão especial que vai analisar a PEC do orçamento impositivo. Depois de aprovada nessa comissão, a proposta vai novamente ao plenário da Câmara, onde já havia sido aprovada. Voltou por conta de mudanças no texto feitas no Senado. A PEC é patrocinada pessoalmente pelo presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e deve seguir a tendência de tramitação ligeira, sendo analisada em dez sessões pela comissão (que poderia levar até 40 para debatê-la, segundo o regimento).
PREVIDÊNCIA
“O governo vai tomar um cacete e pedir desculpas, senão trava de vez a Previdência.” O diagnóstico é do líder do governo no Senado, Major Olímpio (PSL-SP) e se refere à decisão de abandonar a política de ganhos reais no salário mínimo, expressa na Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2020 enviada ao Congresso na segunda.
Alheio a tudo isso, a ideia do governo é terminar a primeira fase de tramitação da reforma da Previdência hoje, antes do feriado. Mas os deputados da oposição com assento na Comissão de Constituição e Justiça vão tentar obstruir a votação. E o centrão vai defender mudar o texto já, retirando a previsão de transição para o regime de capitalização e a perigosa desconstitucionalização, que permitiria que, para mudanças futuras nas aposentadorias e pensões, bastaria obter maioria simples no Congresso.
Enquanto isso, o Banco Mundial pressiona de modo nada sutil pela aprovação da reforma. Carlos Vegh, economista responsável pela região da América Latina e Caribe no organismo, disse ao El País que a reforma “é fundamental” para a recuperação da economia brasileira.
CONTRA O DECRETO
A Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão do Ministério Público Federal divulgou ontem nota manifestando preocupação com o decreto 9.759, que golpeia a participação social nas políticas públicas. O MPF contabiliza a extinção de, pelo menos 35 instâncias, dentre elas os importantes Conselho Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo, Conselho Nacional de Combate à Discriminação e Promoção dos Direitos de LGBT, Comitê Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e Conselho Nacional dos Direitos do Idoso.
E várias entidades da saúde, como Abrasco, Cebes e ABrES, se manifestaram contra o decreto 9.759 e mostraram apoio à realização da 6ª Conferência Nacional de Saúde Indígena (que sofre riscos como mostramos aqui) e da 16ª Conferência Nacional de Saúde.
PARA SABER MAIS
Falamos aqui da qualidade da água, mas também falta informação sobre quantos casos de chikungunya evoluem para complicações graves da doença como a encefalite viral. “Todo paciente que tem uma manifestação (como a encefalite) causada por um arbovírus, como os transmitidos pelo Aedes, deveria obrigatoriamente ser submetido a investigação de um diagnóstico diferencial, para que possamos compreender as epidemias que ocorrem no país. Infelizmente, esse não é um procedimento comum na maior parte da rede hospitalar”, lamenta a pesquisadora Soniza Alves-Leon em entrevista ao Globo. Ela faz parte de uma iniciativa impulsionada pelo próprio Ministério da Saúde que pode ajudar a mudar o quadro. Mapear todas as potenciais complicações neurológicas causadas por esse vírus é o objetivo atual da Rede Nacional de Enfrentamento ao Zika e Doenças Correlatas, que reúne cientistas do país todo.
É VERDADE
Ontem, o novo presidente da República Democrática do Congo Felix Tshisekedi pediu à população que acredite que o ebola é real. Apesar do surto que castiga há meses o país, em muitas comunidades cresce a desconfiança em relação à doença. Líderes comunitários tentam convencer as pessoas a não tomar a vacina contra o vírus. E, junto com tudo isso, como já mostramos por aqui, há um grande abismo de comunicação entra a população e os trabalhadores de saúde estrangeiros deslocados para responder à emergência.
CRISE NA VENEZUELA
De acordo com um grupo de cientistas, os casos de malária na Venezuela bateram a casa do um milhão em 2018. A estimativa é diferente do número apresentado em novembro do ano passado pela OMS, que contabilizou em relatório 400 mil novos casos no país. A divergência, segundo Adriana Tami, da Universidade de Carabobo e do Hospital Universitário de Groningen, acontece porque o estudo que chegou à conclusão mais alarmante se baseia em dados coletados na ponta do atendimento.
EFEITO COLATERAL
Segundo um estudo divulgado pela Vox, a epidemia de opioides também prejudicou a arrecadação nos EUA. Entre 2000 e 2016, o governo federal teria deixado de arrecadar US$ 26 bilhões e os governos estaduais teriam perdido US$ 11,8 bi. A conta foi feita levando-se em consideração o impacto da epidemia para o mercado de trabalho, com os afastamentos temporários e até definitivos devido ao abuso da substância.
MUITO DINHEIRO
A UnitedHealth registrou lucro líquido de US$ 3,47 bilhões no primeiro semestre deste ano – um crescimento de 22% em relação ao mesmo período do ano passado. A empresa estadunidense controla a Amil. O relatório foi divulgado ontem, mas não traz informações separadas sobre os resultados do braço brasileiro.
Matéria feita por Maíra Mathias Publicado 17/04/2019 às 09:46 - Atualizado 17/04/2019 às 11:10
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