Postado em 09/04/2020 16:24 - Edição: Marcos Sefrin
A confusão de capacidades que se faz no Brasil nos leva a ter microeconomistas, simples gestores de carteiras e de fundos, a serem considerados aptos a gerir políticas públicas, algo que exige outro perfil
É interessante a grande distinção entre o conceito de ” economista ” nos EUA e no Brasil. Nos Estados Unidos economista é visto como acadêmico ou macroeconomista que opera em instituições, think tanks, bancos multilaterais, Fundo Monetário, no Bureau de Pesquisa Econômica e nos Departamentos da Administração como Comércio, Labor, Escritório de Comércio Exterior (USTR), no Conselho de Assessores Econômicos, no Federal Reserve.
Todos os sete membros do Board são economistas acadêmicos de altas credenciais, nos doze Federal Reserve Banks se encontram ótimos economistas, em alguns, como o Fed de St.louis, publicam revistas de excelente qualidade, mas é nas universidades onde mais se encontram os economistas que escrevem em jornais e revistas, é um nicho profissional especial onde não se inscrevem o que no Brasil se entende por “economista de mercado” que se encontram nas gestoras e corretoras.
Economista nos EUA é entendido como MACROECONOMISTA que trabalha com temas públicos e não finanças pessoais, operações especulativas, assessoria de investimentos, esses profissionais não são vistos como economistas.
No Brasil, os economistas de orientação pública começaram a aparecer no segundo Governo Vargas em pequena escala, o número cresceu no Governo JK, mas foi nos Governos Militares que os “economistas no governo” cresceram, aliás esse é título de um excelente livro sobre o tema, de autoria de Maria Rita Loureiro.
Os economistas chegaram no seu apogeu no Plano Real e desde então dominam o Banco Central e o anel de instituições em volta da área econômica do Governo.
O FORMULADOR E O GESTOR
Vimos a completa diferença entre o MACROECONOMISTA, preparado para tratar dos temas de políticas públicas e o MICROECONOMISTA, cujo foco são investimentos e o nível da empresa, este é o mais abundante no Brasil, o “economista de mercado”, gestor de fundos de investimentos e assessor de aplicadores, nada a ver com MACROECONOMISTA.
Feita essa distinção há outra fundamental para as questões de políticas públicas, há o macroeconomista FORMULADOR e há o GESTOR. Grandes pensadores podem não ser eficientes gestores, raramente há um nome que reúne as duas qualificações. Grandes formuladores foram ROBERTO CAMPOS E MARIO HENRIQUE SIMONSEN, não foram gestores tão eficientes, DELFIM NETO nos cargos da Fazenda e Planejamento reunia as duas qualificações, algo raro, SCHACHT na Alemanha também era formulador e gestor.
No Brasil um não economista, OSWALDO ARANHA foi formulador, gestor e operador político da economia, uma combinação mais rara ainda. Aranha criou dois Planos de reestruturação da dívida pública externa que foram um primor de engenhosidade, criou um Plano ultra heterodoxo de câmbio, o das Cinco Categorias de taxas, de uma criatividade única pela ousadia. Sua biografia, na área econômica, escrita por Mario Henrique Simonsen, é primorosa. Lembrando que Aranha também era diplomata, parlamentar, ativista revolucionário, orador e líder partidário. Um Aranha hoje nadaria de braçadas em meio à combinação de crises sanitária, política e econômica. Além disso, era um homem agradável, simpático e encantador.
Outro visionário sem ser economista foi Vargas, sua grande política de desenvolvimento do Brasil nos deu a Vale, a CSN, o BNDES, a PETROBRAS, a ELETROBRAS, claro que teve boa assessoria de nomes como Romulo de Almeida e Roberto Campos, mas o grande desenho era dele.
A confusão de capacidades que se faz no Brasil nos leva a ter microeconomistas, simples gestores de carteiras e de fundos, a serem considerados aptos a gerir políticas públicas, algo que exige outro perfil, outro cérebro, outra personalidade, um certo desprendimento pessoal. Lembro que homens com imensos poderes, como Roberto Campos e Delfim Neto, não se preocuparam com suas finanças pessoas, sempre levaram vidas austeras. Tive muito contato com Campos nas etapas finais da vida e conheci seu cotidiano nada fácil, ele vivendo no mesmo apartamento simples no Arpoador que já era sua casa antes de ser Ministro poderosíssimo, Delfim ativo até hoje, trabalha na sua consultoria na mesma casa, tem o mesmo sítio que já tinha há décadas, a mesma vida espartana, homens de Estado do mais alto nível com a cabeça voltada ao Brasil e não a si mesmos. Foram esses os grandes estadistas da economia brasileira que nos fizeram chegar até aqui como País de importância.
Matéria feita por Andre Motta Araujo
Ref.: https://jornalggn.com.br/
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