Postado em 28/01/2020 17:07 - Edição: Marcos Sefrin
Pais, alunos e professores estão preocupados com o fim do Ensino Médio noturno em escolas de Curitiba e RMC
Colégio Tiradentes tem 127 anos de ensino. Foto: Pedro Ribas/ANPr
Há menos de dez dias do início das aulas, ainda tem estudante no Paraná que não sabe onde vai estudar. Muitos estão em cadastro de reserva esperando o governo decidir se abre ou fecha turmas. Outros precisaram abandonar os amigos e seguir para nova escola, distante de casa. Alguns temem pelos empregos, já que estudam a noite. O remanejamento de turmas nas escolas estaduais, com o fechamento do Ensino Médio noturno, vem causando problemas para jovens e professores que precisam trabalhar durante o dia.
Foi o que aconteceu com Millena Victória Santos da Silva, 17 anos. Aluna do Colégio Vinícius de Moraes, em Colombo, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), ela conta que as mudanças afetaram profundamente os estudantes. “Com o fechamento do noturno, fomos obrigados a mudar de colégio, pois trabalhamos e não temos como estudar à tarde. Quando eu soube, fiquei desesperada. Mudar de colégio nem sempre é tão fácil. Isso é muito injusto”, acredita.
A angústia de Milena também atinge professores que davam aulas à noite. Com o fechamento das turmas, eles terão que ser remanejados para outros períodos ou escolas, mas muitos já trabalham de dia, o que resultará em perda de aulas.
A redução nas classes já tinha sido prevista pelo governo em novembro. Diante de críticas da comunidade escolar, a Secretaria de Estado da Educação (Seed) recuou e prometeu, via líder do governo na Assembleia, que nenhuma escola ou turma seria fechada.
No primeiro dia de distribuição de aulas, porém, em 11 de dezembro, professores e diretores se surpreenderam com o sumiço de várias turmas do sistema. O governo confirmou as mudanças, mas avaliou que os ajustes não eram necessários e garantiu, mais uma vez, que nenhuma turma seria fechada.
“O número de turnos e turmas será mantido. Todas as modificações foram reautorizadas e as turmas foram reabertas. Inclusive, um ofício foi publicado no site da Secretaria”, assegurou ao Plural, na ocasião, o diretor de planejamento e gestão escolar da Seed, Renan Compagnoli.
O ofício, no entanto, sumiu do sistema – e o mesmo aconteceu com as turmas. “No Colégio Tiradentes, há 214 alunos esperando abrir vaga. A Seed simplesmente não autorizou a matrícula. Pediu pra eles fazerem o cadastro de reserva de vagas; eles fizeram, e depois sumiu com os alunos, mandou não sei pra onde e simplesmente não cumpriu com o combinado. O acordo foi cumprido parcialmente, porque eles iam fechar a escola completamente”, afirma a diretora da APP-Sindicato, Tereza Lemos.
Colégio Amâncio Moro, em Curitiba. Foto: Arnaldo Alves/ANPr
No Colégio Amâncio Moro, também em Curitiba, há 100 alunos na lista de espera. “Curioso é que não autorizaram a abertura de turmas para o 1º ano no Amâncio, mas encaminharam alunos de uma escola vizinha para lá, a Nossa Senhora da Salete”, conta a diretora, lembrando que, mesmo após ser alertada sobre a falha, a Seed não consertou a situação. “Precisou os pais irem lá na Seed cobrar.”
“Quando perceberam que tinham errado, abriram uma turma de 1º ano pro pessoal do Salete, mas os alunos no Amâncio Moro, que eram do 9º ano, ficaram de fora e foram pra lista de espera. É um absurdo o que aconteceu lá. A situação está bem complicada. Eles precisavam ter aberto os 6º e 7º também e não abriram”, avalia a representante sindical. “As aulas começam dia 5 de fevereiro e têm alunos que ainda não sabem onde, nem se, vão conseguir estudar.”
Cívico-Militar
Uma das quatro escolhidas para se transformar em escola cívico-militar – a Vinicius de Moraes, em Colombo – teve quatro turmas do Ensino Médio fechadas. “Para o funcionamento integral do programa cívico-militar, precisamos fazer o fechamento do noturno, mas ele foi alinhado com a comunidade, perdemos poucos alunos. Eles foram remanejados pra manhã, a maioria, e os outros remanejados pra um colégio próximo, o Joao Gueno”, confirma o diretor Gerson Bonierski.
Não é como veem alguns pais. “Muita gente foi prejudicada. Conseguiram vaga no outro colégio, mas é em outro bairro e o ônibus escolar não para perto de casa, só na principal. Se perder o escolar, vai perder aula ou vai ter que ir a pé, e aí é perigoso, tem risco de assalto”, observa uma mãe, que não quis se identificar. “A escola já era lotada, agora com menos turmas vai lotar mais ainda cada sala. Não sei como vão fazer no outro colégio com os alunos novos”, indaga.
De acordo com um funcionário do Colégio João Gueno, que também preferiu não se identificar, todas as turmas do Ensino Médio por lá eram superlotadas, com cerca de 50 alunos cada.
“Tem muita gente sendo prejudicada na comunidade. Quem não for transferido pra manhã, vai ter que arcar com transporte pra outra escola ou ir a pé e à noite naquela região, o que é complicado. É o caso da Tainá, que foi morta justamente ali entre o Gueno e o Vinicius de Moraes. Os estudantes vão ter que fazer esse caminho”, alerta uma professora.
“A desculpa é que não tem ninguém no Ensino Noturno, que termina com muito pouca gente, mas não é assim. A gente tem uma procura sim. As turmas fecham com 30, 25 alunos. Não é pouco. E há vários estudantes que entraram na universidade que eram da noite.”
Professores sem aulas
A falta de comunicação entre Secretaria, Núcleo e escolas também foi criticada por alguns professores e funcionários com quem o Plural conversou. Muitos já trabalham de dia em outras escolas e empregos e não conseguirão remanejamento. “Ficamos sabendo do fechamento do noturno na quarta-feira passada (15), por terceiros. Não foi a escola que avisou pra gente. Então, em fevereiro, a gente ia chegar e descobrir que não ia ter aula. Fomos questionar e nos disseram que é pra procurarmos outra escola. Mas daí tinha que ter avisado antes”, sustenta uma das professoras.
“Fui até o Núcleo de Educação e eles disseram que ainda não foram informados formalmente sobre o fim do período noturno. Mas isso é um absurdo, pois foi o Núcleo que migrou as turmas da noite pra de manhã. Então a falta de comunicação é absurda”, ressalta outro funcionário.
Custo-benefício
A Secretaria de Estado da Educação e do Esporte (Seed) informou que todos os anos realiza o planejamento escolar, avaliando o número de alunos e a estrutura escolar. “É a partir do planejamento escolar que se define o número de turmas que serão abertas para atender os anos de entrada (6° e 1°) e o número de turmas de continuidade. O processo de abertura ou união de turmas respeita, ainda, as funções da Administração Pública, que devem ser desempenhadas de forma a atender ao interesse público, na melhor relação custo-benefício, tendo como fator indispensável ao desenvolvimento da atividade pública, a produtividade e a economicidade”, diz a nota.
“Em algumas cidades, há escolas com turmas com menos alunos. Isso ocorre porque a demanda é baixa e não há outra instituição de ensino para atender. Quando, entretanto, há oferta de vaga em instituição próxima e adequada às necessidades dos alunos, opta-se por unir as turmas, respeitando-se o número máximo de alunos por turma e o espaço físico da sala de aula.”
A secretaria enfatiza que todos os alunos da rede estadual – tanto os de continuidade quanto os novos – têm vaga garantida em escola indicada por georreferenciamento (instituição mais próxima do endereço fornecido). “Todos os alunos que pleiteiam vaga em outra instituição têm vaga garantida na escola indicada por georreferenciamento.”
No caso específico do Colégio Estadual Tiradentes, a Seed explica que a maioria das salas de aula estão ocupadas por alunos matriculados no Colégio Estadual do Paraná (CEP), que está em reforma. As demais salas continuam ocupadas por alunos de continuidade e novos alunos do Colégio Tiradentes. “Alunos que pleiteiam vaga no CE Tiradentes têm vaga garantida nos colégios em que já estudavam ou, no caso de estudantes ingressantes na rede, em colégios próximos, uma vez que o espaço físico do CE Tiradentes está totalmente ocupado por estudantes da rede, não
comportando novas turmas.”
Já na escola Amâncio Moro, a situação é semelhante. “A estrutura física também está ocupada, desde o ano passado, pelo CEP, e, além disso, até o momento de fechamento do planejamento de turmas, no ano passado, não havia quórum para abertura de novas turmas.”
Colaborou: Rafaela Moura
Matéria feita por Mauren Luc Mauren Luc é jornalista, especialista em Educação e Valores Humanos. Com atuações em reportagem, produção e edição de conteúdo, colaborou com diferentes veículos, redações e assessorias de Comunicação. Presidiu o Grupo de Apoio à Adoção Romã e integrou a direção do Sindijor-PR. Acredita que a verdadeira Comunicação Social se faz na pluralidade de vozes e em pautas que traduzam realidades e soluções transformadoras.
Ref.: https://www.plural.jor.br/
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