Postado em 06/01/2020 09:42 - Edição: Marcos Sefrin
É a última das muitas intervenções dos Estados Unidos no que costumava ser o seu 'quintal', a América Latina
Calcula-se o número de panamenhos mortos em 3.000, na imensa maioria civis das áreas mais pobres do país
No dia 20 de dezembro de 1989, milhares de paraquedistas norte-americanos saltam sobre o Panamá e derrubam o governo do presidente Manuel Noriega. É a última das muitas intervenções dos Estados Unidos no que costumava ser o seu "quintal", a América Latina. Quem autorizara a invasão? O presidente George Bush, pai, que eleitores norte-americanos chamavam de wimp (fracote).
O que fez este homem cair em desgraça com os norte-americanos? Noriega tinha sido funcionário assalariado da CIA. Levava 100 mil dólares mensais para dedurar comunistas da América Central, no período em que EUA e União Soviética estavam envolvidos na Guerra Fria. Mas, na época, Noriega já desafiava Washington, dizendo-se vítima de um complô imperialista. A Casa Branca acusava o presidente de lavar dinheiro de traficantes colombianos.
Manuel Noriega recebera formação militar na escola militar de Chorrillos (Peru) e, quando retornou ao Panamá, ingressou na Guarda Nacional. Ligado ao golpe de Estado que derrubou o terceiro governo de Arias, em 1968, é recompensado com a promoção a tenente-coronel. Inicia contatos com a CIA, onde já estivera para receber treino em contra-espionagem. Nessa altura, começa a ser noticiado o seu envolvimento com o tráfico de drogas.
Em 1982, Noriega passa a chefiar o Estado-Maior, autopromovendo-se à patente de general, com poder absoluto sobre o Exército e tornando-se, na prática, um presidente despótico e arbitrário.
Em 1984, o ex-presidente ultranacionalista Arnulfo Arias vence a eleição presidencial. Noriega cancela o resultado e, para espanto geral, recebe apoio norte-americano. Na avaliação da Casa Branca, Arias poderia oferecer maiores riscos aos interesses de Washington.
Por volta de 1986, as suspeitas relativas à sua ligação com a CIA vêm à tona, mais tarde comprovando-se que agente da agência norte-americana. O fato chega ao conhecimento da opinião pública, o que constitui um enorme embaraço para o governo dos EUA (então sob Ronald Reagan), assim como o seu envolvimento no narcotráfico internacional e na lavagem de dinheiro.
Antes de ser vice-presidente de Reagan, Bush havia sido diretor da CIA, a quem Noriega serviu diretamente como delator. Quando deixou de interessar aos norte-americanos, foi afastado. Diante das evidências, das circunstâncias e do escândalo que se estava criando, o presidente norte-americano George Bush não tem alternativa a não ser aplicar a tradicional política para a região: ordenar a invasão do Panamá, numa ação batizada como "Operação Justa Causa". O objetivo era capturar Noriega.
Noriega permanece escondido na casa da amante, Vicky Amado, até ser levado para a Nunciatura Apostólica na véspera de Natal. Lá, é protegido pelo núncio Sebastián Laboa, que aparentemente o convence a se entregar, em 3 de janeiro de 1990.
O ataque durou duas semanas e destruiu grande parte da Cidade do Panamá, especialmente bairros de baixa renda. Calcula-se o número de panamenhos mortos em 3.000, na imensa maioria civis das áreas mais pobres do país, contra apenas 19 militares norte-americanos.
Preso como bandido, Manuel Noriega é levado para Miami e julgado. Acaba condenado a 30 anos de cadeia sob a acusação de facilitar o tráfico de de cocaína e de maconha para os EUA. Ainda hoje, cumpre pena na Flórida.
MATÉRIA FEITA POR MAX ALTMAN - 20 de dez de 2009 às 06:00
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