Postado em 10/01/2019 09:39 - Edição: Marcos Sefrin
O que a IA significará para os nossos empregos e para a plenitude da realização humana. Quais as suas consequências no sentido da vida e na construção de nossos destinos?
Inovação, desafios, complexidades e perplexidades têm norteado, com relevante frequência, os debates sobre Inteligência Artificial (IA) no novo mundo das organizações e no universo da sociedade, nos últimos anos. Nessas oportunidades, executivos, gerentes, profissionais de administração, estudantes (dos cursos técnicos em nível médio e, não raro, estudantes de colégios em nível fundamental), além dos interessados em gestão e áreas conexas têm me abordado para trocamos conhecimentos e ampliarmos nossas reflexões sobre as expectativas. O que mais me surpreende é que os distintos públicos, constantemente, suscitam as mesmas indagações, dúvidas e reflexões.
– Será que teremos professores-robôs em futuro próximo?
– Será que nos casaremos com robôs e poderemos até ter filhos com eles?
– Quais as consequências judiciais se um carro-robô se acidentar, provocando vítimas em humanos?
– Os computadores serão capazes de dirigir as organizações, subordinando os humanos a seu comando irrestrito.
– Se os computadores serão capazes de fazer tudo, o que restará para os seres humanos?
Questionamentos como os acima destacados colocam a IA em destaque sem precedentes no elenco de nossas preocupações, independentemente da posição em que nos coloquemos. É hoje o ponto-comum de todos em quaisquer extratos ou estamentos sociais. Não era assim até poucos anos, pois se restringia a ser um tema de atenção circunscrito exclusivamente às pesquisas acadêmicas, aos círculos de especialistas e às literaturas e aos filmes de ficção cientifica.
O cidadão médio podia ter alguma percepção de que a IA poderia construir robôs capazes de pensar e de trabalhar em lugar do homem em atividades simples, mas quase não haveria conexão estreita entre o que se estava prestes a produzir e a plenitude do cotidiano da vida das pessoas.
Hoje, tudo mudou. Não se fala em outra coisa. É tema em discussão em quaisquer dimensões da vida humana, na família e no trabalho, na academia e na imprensa, nas mídias sociais, na saúde e na doença, no lazer e no entretenimento. Estamos expostos a uma pletora de informações em tempo integral. Mas, apesar de bombardeados por todo o tipo de questões, ainda não dispomos de respostas à altura, capazes de contrabalançar as ilusões de um pensamento ingênuo, que antevê maravilhas e as preocupações catastróficas, que nos colocam diante de um cenário imprevisível de desumanização da humanidade.
O que a IA significará para os nossos empregos e para a plenitude da realização humana. Quais as suas consequências no sentido da vida e na construção de nossos destinos?
Todos queremos saber que nações serão capazes de se beneficiar efetivamente da utilização real e plena do que se julgava ser apenas delírios da ficção cientifica dos Séculos XIX e XX? Será que a IA conseguirá garantir à humanidade uma vida material em abundância?
Haverá espaço para o ser humano num mundo capitaneado pelas máquinas inteligentes? Ninguém ainda consegue prever as respostas a tantos questionamentos, dúvidas e perplexidades. Mas é
preciso aprofundar o estudo no núcleo central dessas incertezas para garantir ao homem sua inteireza humana.
Os debates, a compreensão e a revelação da narrativa da IA na história do homem não é nada simples. Não se trata da história das máquinas como ocorrido nos estudos da Primeira Revolução Industrial. Pela IA vivemos uma nova construção da própria história humana em si, o que nos permitirá ou não dispor de liberdade e da vontade, de fazer
ou não as nossas próprias escolhas, de conformar ou não o nosso próprio destino.
O futuro da IA será construído por nós, pelas decisões que hoje tomamos ou não, e pelas ações que agora empreendemos ou não. É preciso abandonar os velhos conceitos e verdades estabelecidas. Mais do que nunca temos de superar e enterrar o velho para que o novo possa nascer em plenitude.
Valho-me, em conclusão, de reflexões de Yuval Noah, em 21 Lições para o Século XXI, que nos desafia à compreensão dos tempos presentes: “a tarefa de criar uma narrativa atualizada para o mundo. Assim como as convulsões da Revolução Industrial deram origem às novas ideologias do Século XX, as próximas revoluções da biotecnologia e na tecnologia das informações exigirão novas visões e conceitos. As próximas décadas serão, portanto, caracterizadas por um intenso exame de consciência e pela formulação de novos modelos sociais e políticos. Será o liberalismo capaz de se reinventar, mais uma vez, como na esteira das crises das décadas de 1930 e 1960, e emergir ainda mais atraente? Será que a religião e o nacionalismo tradicionais são capazes de oferecer as respostas (…) ou será o momento de romper totalmente com o passado e criar uma narrativa completamente nova que vá além não só dos antigos deuses e nações, mas até mesmo dos valores modernos centrais de liberdade e igualdade. Ainda estamos no momento niilista de desilusão e raiva, depois da perda da fé nas narrativas antigas, mas antes da aceitação de uma nova. (…) A verdade é que eu não compreendo o que está acontecendo no mundo.”
*Wagner Siqueira é o atual Presidente do Conselho Federal de Administração (CFA)
Matéria feita por Wagner Siqueira dia 09 de janerio de 2019
Ref.: https://diplomatique.org.br/inteligencia-artificial-riscos-e-oportunidades/
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