Postado em 26/09/2018 17:23 - Edição: Marcos Sefrin
O ser humano se constrói todos os dias e um pouco por dia. Ninguém nasce pronto e nunca estaremos prontos. Estamos abertos à construção. Por isso, quando alguém diz "eu já fiz tudo", "eu já sei tudo", está indo contra a própria dinâmica da vida de estar sempre aberta. Somos tarefa para nós mesmos. Nunca estamos concluídos. Enquanto estamos vivos podemos crescer, ser melhores e, consequentemente, mais humanos. A nossa humanidade é sempre possibilidade. É crescimento e aperfeiçoamento.
Nascemos humanos, diferente dos animais. Mas isso basta para sermos humanos? Em princípio poderíamos dizer que sim. Um ser humano não pode ser como um animal. Mas sabemos que na verdade a nossa humanização é tarefa. Ela se construirá em nosso ambiente, em nossos relacionamentos, em nossa abertura e aprendizagem. Um ser humano pode não ser tão humano assim. Poderá ser selvagem e perigoso. Se não assumir sua tarefa de humanizar-se poderá permanecer e agir mais pelos instintos do que pela razão e reflexão.
Isso mostra que não somos acabados. O que somos por natureza, isto é, animais racionais, não é suficiente para garantir nossa socialização, que acontece pela aprendizagem, pela convivência, pelos relacionamentos. Os relacionamentos definem a nossa qualidade de vida. Pessoas que não aprendem a se relacionar não vivem bem e não deixam viver. São as pessoas difíceis, que não crescem, não estão dispostas a aprender e, por isso, não se humanizam.
Ter em mente que somos seres inacabados é condição para a humanização. Se eu sair da minha casa de manhã cedo e disser para eu mesmo "hoje posso aprender e ensinar”, isso me ajudará a crescer. Não sei tudo e também não sei nada. Minha vida está aberta. Recebo dos outros e também posso dar. Essa ideia clara me fará bem. Tem pessoas que pensam que só podem ensinar e tem outras que pensam que não conseguem ensinar nada. A vida é uma permanente troca. Isso que faz a vida ser bonita. Essa troca permanente é construção, é inacabamento. Quem se considera acabado não cresce. Não importa a idade e as experiências que tenha vivido. Estar vivo é permanecer aberto. Essa compreensão me tornará melhor para acolher a realidade da própria vida e da diversidade.
O mundo dinâmico e plural exige mente aberta. Quem sabe tudo sobre determinado assunto? Mesmo que saiba muito, nunca saberá tudo. Sendo assim será sempre possível aprender mais. Saber mais. Numa perspectiva aberta isso me tornará melhor. Como a vida é muito ampla, a compreensão daquilo que nos envolve é abrangente e complexa. Se em tudo eu não me fechar em apenas uma ideia que possuo, poderei sempre aprender. Se eu for expert em um assunto, poderei estar aberto para outro. Isso me torna sábio e vai me construindo como ser humano.
Tem muitas pessoas que têm dificuldade de perceber a amplitude da realidade. Se fecham em poucas ideias. Parece que sabem tudo. É no mínimo difícil conviver com pessoas assim. O contrário parece não existir para elas. Isso mostra que são completas, acabadas, por isso, fechadas. O fechamento paralisa. Não há espaço para o avanço, para o novo. Ali não há crescimento. Que triste quando isso acontece. Aquilo que humaniza foi fechado. A porta do inacabamento foi fechada. A aprendizagem já aconteceu e não há espaço para o novo. É a morte do humano e de sua humanização. Somos inacabados. Somos incompletos. Não sabemos tudo. Podemos crescer. Isso é assumir a tarefa de cada um de humanizar-se. E essa tarefa é minha. É de cada um. Não posso passá-la a outros, terceirizá-la.
Padre Ezequiel Dal Pozzo - contato@padreezequiel.com.br
Ref.: Jornal Mercadão
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