Postado em 16/01/2019 14:30 - Edição: Marcos Sefrin
O governo Bolsonaro, enfim, começa, e – como é comum em novos relacionamentos – o primeiro gesto se carrega de simbolismos.
O processo de eximir o Estado da vida social se inicia com a terceirização da segurança, com o decreto que amplia a facilidade para a compra de armas, em si uma peça que, tivéssemos um Judiciário, enfrentaria uma guerra nos tribunais, a começar pela inútil e questionabilíssima validade para “apenas” 80% dos brasileiros, pelo corte – ao menos anunciado – de que ele só valerá em municípios com 10 homicídios por 100 mil habitantes.
É absolutamente previsível que a “liberação” das armas – ainda mais acompanhada, como se anuncia, de uma campanha publicitária de “esclarecimento” – vá provocar efeito sobre a parcela da população que está mais propensa a iludir-se com a sensação de segurança – em geral, falsa – de ter um revólver na prateleira do armário.
Impossibilitado de acenar com antigos valores de satisfação para a pequena classe média, como o velho “sonho da casa própria”, a sensação de segurança, esperam, vá ser provida pelo “sonho da arma própria”, a partir de R$ 4 mil.
Uma rápida consulta às estatísticas mostra que o número de assaltos a residências e estabelecimentos comerciais, onde a posse de uma arma – mesmo nas hipóteses mais favoráveis – é avassaladoramente menor que a do roubo a transeuntes. No Rio, em 2014, foram 4 mil, contra 40 mil roubos a transeuntes. Idem para o roubo de veículos (14 mil) e em coletivos.
Onde, em tese, nada mudaria sem a autorização de porte.
Trata-se apenas de contar os dias até a primeira tragédia provocada pelas armas adquiridas com a permissão do decreto bolsonariano.
É triste e até cruel analisar não analisar os resultados que isso trará em perdas de vidas humanas, mas uma medida que tem, essencialmente, caráter político deve ser olhada pelos resultados políticos que terá.
Muito maior que a exibição da “arminha” com os dedos.
Mas bem pequeno, afinal, pelo tempo de distração que isso irá gerar para facilitar outras políticas, estas sim altamente lucrativas para a turma do dinheiro.
Afinal, como resume o neoliberalíssimo Hélio Schwartsman, na Folha:
A melhor chance de o governo Bolsonaro dar certo é o presidente escolher duas ou três áreas menos estratégicas para transformar num parque de diversões ideológico, dando assim satisfações à sua base —neopopulistas como ele nunca descem do palanque—, e conformar-se com o papel da rainha da Inglaterra na economia, contendo seus instintos corporativo-estatistas para não atrapalhar muito.
Liberdades e vidas, afinal, são nada perto do dinheiro.
Matéria POR FERNANDO BRITO · 15/01/2019
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