Postado em 27/03/2019 09:38 - Edição: Marcos Sefrin
CNGº 393 - 45172 o último Landau Produzido - O pedido especial de encerramento de Linha |
Eis que eu lhes apresento o último Landau produzido no Brasil. E também aqui compartilharei o documento que eu submeti (devidamente adaptado para preservar alguns dados) a FBVA que apenas se limitou a ignorar o testemunho do primeiro proprietário do último Landau e também ignorou todo o material apresentado de que o carro é legítimo. Após um mês em análise para a placa preta o pedido foi rejeitado sem desmentir uma única prova que foi apresentada com uma simples "desculpa" requisitando uma foto de época, nisso surge uma nova piada no antigomobilismo "só pode ter placa preta com foto de época", algo que pode ser facilmente burlada com um photoshop por exemplo, mas tudo bem, paguei a multa por atraso na transferência da documentação mas o que me deixa mais chateado é a falta de discernimento em apresentar contra provas de que o carro não é o que as evidências mostram e principalmente pela falta de interesse em algo histórico, eu coloco o carro e todas as provas aqui apresentadas a disposição para serem questionadas. Vamos ao material enviado a FBVA:
Tive a oportunidade de conversar com o Zeca (primeiro proprietário), e dois de seus netos, e conforme a conversa ele me confirmou o que já suspeitava: o carro foi um pedido especial logo após saber do encerramento da produção do carro mais caro do país. Na ocasião o Zeca, ou Sr. José Carlos Bohrer era Diretor da Dana-Albarus do RS desde 1970 e permaneceu no posto até 1994, e foi proprietário do último Landau produzido de Fev/1983 até Ago/1997. O carro de fato passou por algumas reformas ao longo de sua vida, principalmente nos respectivos pontos fracos conhecidos da linha Galaxie por problemas com oxidação, a parte inferior das portas e a parte inferior do paralamas traseiro, porém foram mantidas suas características originais durante as reformas.
Uma coisa que foi questionada sobre esse carro foi a cor, e quanto a veracidade da cor, alguns lugares ainda permanecem intocados como a máscara do farol que ainda conta com a cola original dos adesivos de pintura sobre a cor original como mostra a Figura 1, e ambas as máscaras do farol apresentam a cola. Como referência foi usado um LTD 1980 Verde Itapeva com 34 mil km.
Figura 1 - Controle de Pintura na mascara do farol que nunca foi retocada |
No porta-malas, foi descascado propositalmente no intuito de descobrir possíveis alterações ou se haveria outra cor por baixo da cor atual e foi constatado que o porta-malas permanece intocável no quesito pintura como mostra a Figura 2, uma vez que o fundo fosfatizante “rosa” original se encontra logo abaixo da tinta azul e não apresenta sinais de alteração.
Figura 2 - Fixação do estepe no portamalas |
A Figura 2, é mais uma constatatação de que a cor original de fábrica se assemelha ao vivo com perfeição ao Azul Marselha Metálico de 1983 do catálogo de tintas da Lazzuril, cor que era especial da linha DelRëy para o modelo 1983 corroborando mais uma vez para a autenticidade do veículo.
Esse carro foi inspecionado anteriormente também pelo Fabiano Tilli (um dos, se não o maior especialista em Galaxie do Brasil), que atestou que o mesmo não apresenta nenhum sinal de remoção do vidro traseiro, bem como dos emblemas e frisos do teto, que poderiam justificar uma alteração no teto do mesmo, uma vez que o Landau tinha um enxerto para fazer o vidro menor que era soldado em diversos pontos no espaço do vidro grande.
Legitimidade da plaqueta de Identificação que foi anteriormente acusada de falsa:
Figura 3 - Plaqueta de Identificação do Veículo com todas as informações referentes à ele. |
Quanto a veracidade da plaqueta o Eng. Valter Barragan Neto (o mesmo que escreve esse blog), que mantém o “Cadastro Nacional do Galaxie” e possui um grande acervo de plaquetas no cadastro, analisou os tipos usados e fez vários comparativos o que possibilitou criar imagens sobrepostas para tirar quaisquer dúvidas quanto a originalidade da plaqueta. Na Figura 4 a seguir é possível notar o desalinhamento e posicionamento de TODOSos tipos são consistentes, principalmente no número 451. As fotos não são perfeitamente alinhadas com exceção do 45147 que foi desmanchado e a plaqueta se encontra junto com o 45172 e foram tiradas na perpendicular da plaqueta, porém mesmo nos que não foram tirados perpendiculares se mostram com perfeição o “alinhamento” dos desalinhamentos das plaquetas quando comparadas:
Figura 4 - Sobreposição do chassi da plaqueta sobre o 45126 |
Na figura 5 abaixo nota-se que o Tipo dos números do chassi é diferente do número da data. A data usa os numerais da linha 75 e anteriores que eram condizentes com uma ferramenta em separado para estampar a data final de produção. Diferenças mais visíveis nos números: 1 2 4 7. No 45196, 45123, 45147 o LA6DBC-451 é exatamente igual ao 45172 provando terem sido feitos pela mesma matriz (no caso a da Ford).
Figura 5 - Comparativo de Plaquetas |
O processo de produção da plaqueta era feito em duas etapas principais, sendo a primeira etapa feira em uma matriz com base rígida de aço para conter todas as informações do veículo que consistia em dois ou mais porta-tipos, um para a parte esquerda (Chassis, Peso, Motor, Carroc., Cor e Estof.) e o segundo para a parte direita (Ano Modelo, Eixo, Trans). O 45123 tem um desalinhamento no S e J (S em cima do I do Eixo) porém com o mesmo espaçamento entre si. Todas as outras são exatamente alinhadas no mesmo posicionamento e com as mesmas inconsistências, com excessão do 45147 que o J está deslocado. A segunda etapa da produção da plaqueta era a data que já era estampada com a plaqueta no carro sendo sua base não tão rígida quanto a primeira etapa permitindo assim que a Data "transpassasse" para a parte traseira da plaqueta. A data era estampada somente após aprovação de todos os testes de final de linha e quando o carro estava definitivamente pronto para ser faturado.
Figura 6 - Parta traseira da Plaqueta, data pinada mais profunda |
Explicação para o Landau com vigia Grande e sem Vinil
Uma vez provada a autenticidade da plaqueta, ela que é sempre usada para atestar a originalidade de um Galaxie quanto a cor, transmissão e teto e suas configurações, possui a informação mais importante que que temos para comprovar a autenticidade do veículo e justificar o porquê de sua configuração fora do padrão.
No campo Carroç. (carroçaria) era usado para distinguir o nível de acabamento do carro não a carroceria como se pensa (vidro pequeno ou grande), conforme citam vários sites americanos mas por exemplo o TPOCR, pode se notar o padrão da Ford em vários carros que apresentam uma unica carroceria apenas o crescimento alfabético da letra que segue a linha de veículo, por exemplo: letra A é para carros mais simples, B um pouco mais requintado e assim por diante e a letra mais alta a versão mais completa e com nível de acabamento melhor.
O exemplo se aplica ao Galaxie também, uma vez que LTD e 500 dividiam exatamente a mesma carroceria, logo temos:
Carroç. |
Modelo/Acabamento |
Modelo do Vidro Traseiro / Carroceria |
54A |
Galaxie 500 |
Grande |
54C |
LTD |
Grande |
54D |
Landau |
Pequeno |
Tabela 1. Código de Identificação na plaqueta do Nível de Acabamento
No campo cor, para a linha Galaxie a partir de 1973 até o fim de sua produção, a plaqueta contém duas letras, sendo a primeira para identificar a cor do veículo e a segunda para caracterização do Teto, onde era caracterizado se o veículo possuía ou não vinil conforme a tabela a seguir:
Letra |
Cor do Vinil |
O |
Sem Vinil (ou Vinil Prata para os Landau somente de Nov/1975 à Ago/1977) |
W |
Vinil Verde |
X |
Vinil Areia |
Y |
Vinil Marrom (Vinil Areia de 73 a 75) |
Z |
Vinil Preto |
Tabela 2. Código de Identificação da Segunda letra da cor
A plaqueta do carro em questão contém no seu código de cor as letras “SS”, sendo que a letra “S” era usada pela Ford para pedidos especiais ou “Special Order/Service” nos casos onde o cliente fazia um pedido de cor fora do catálogo de cores do carro (ou no ano de 1979 também foi usada para marcar a Série Especial dos 60 anos da Ford no Brasil, carros esses que vinham com o código de cor “SZ” ou seja cor especial “Bordeaux Scala Metálico” e teto de vinil preto), portanto a plaqueta do LA6DBC-45172 informa que o carro tem uma “cor especial” + “teto especial”.
O porquê do teto especial e não simplesmente “O” (sem vinil) se dá ao fato de que a Carroceria como mostrado na Tabela 1 era usada para identificar o nível de acabamento, uma vez que Galaxie 500 e LTD dividiam o mesmo vigia traseiro, a mesma carroceria, somente mudando seu acabamento interno e externo, sendo que o 500 em 99% dos casos vinha com a segunda letra da cor “O” (sem vinil) e o LTD geralmente tinha a segunda letra “Z” (vinil preto) ou outras dependendo da primeira letra da cor. Como o Landau tinha um enxerto para um vigia menor, a Ford por sua vez viu a necessidade de usar a segunda letra “S” neste pedido especial para justificar o vigia grande, uma vez que seu código de acabamento 54D incluía vigia pequeno.
Figura 7 - Tradução da Plaqueta de Identificação |
Outra das hipóteses que desmentiam esse carro era que ele possui chassi de Janeiro de 1983, que é representada pela letra “C” do chassis sendo que “B” é o ano de 1983, sendo que sua data de produção é de Fevereiro de 1983. Essa hipótese foi desmentida mais uma vez com auxílio do “Cadastro Nacional do Galaxie” que consta até a data de hoje com 47 carros com Mês diferente do chassi alguns posteriores e alguns anteriores. Na mesma situação do 45172 de data de fabricação posterior à data do chassi existem outros 30 exemplares até o momento listados na Tabela 3, sendo que alguns destes também eram pedidos especiais, porém em outros anos.
Tabela 3. Carros do Cadastro com Data de Produção posterior ao Chassi |
Conclusão
Portanto conclui-se que o LA6DBC-45172 é legítimo quanto a suas configurações de Cor, teto SEM VINIL e vigia traseiro grande, uma vez que não existem provas contrárias aos fatos apresentados neste documento. Como fato relevante para história da indústria automobilística brasileira e baseando se nas informações contidas no “Cadastro Nacional do Galaxie” e no livro do Dino Dragone, que aponta que o último Galaxie que deixara a linha de produção da Ford Ipiranga datava de 2 de Fevereiro de 1983, e o carro em questão que teve sua data de fabricação estampada no dia 3 de Fevereiro de 1983, podendo se concluir também que o mesmo pode se tratar do último Galaxie produzido pela Ford do Brasil, uma vez que a data de produção era a última coisa a ser feita, portanto o carro deixara a linha de produção no dia 2/2/83 e viria a receber a data no dia 3/2/83 junto com seu faturamento e liberação.
Esta tese foi elaborada por Valter Barragan Neto, auto entusiasta, Engenheiro Mecânico Automobilístico e Mestre em Engenharia de Materiais com mais de 11 anos de experiência na General Motors do Brasil e EUA, fundador/mantenedor do Cadastro Nacional do Galaxie restaurador e Galaxeiro desde 1998.
Um Galaxie Abraço!
O último Landau ocupa a posição 393 do Cadastro Nacional do Galaxie
CNGº 393 - Detalhe do Painel do último Landau produzido |
CNGº 393 - Dianteira do último Landau produzido |
CNGº 393 - Detalhe dos forros de porta Kasman Cinza Grafite e acabamento do teto |
CNGº 393 - Detalhe interno, bancos e forros de porta |
CNGº 393 - Detalhe da Coluna C e o emblema Landau |
Vídeo da sobreposição e análise da plaqueta
A seguir uma seção de fotos dele, alguns detalhes, e também com as famosas calotas de centro que dão um ar mais clássico ao clássico!!
Uma das plaquetas 83 usadas para a comparação do vídeo |
Acabamento da Coluna C, perfeito no padrão de fábrica |
Aquele Porta Malas de Respeito! |
Detalhe para a data em que o forro de porta foi manufaturado - 22/01/1983 |
Com as calotas de centro "Dog Dishes" do Fairlaine 500 1960 |
E aqui ele repousa com seus outros dois irmãos mais novos, CNG º1 e º2 do Cadastro Nacional do Galaxie |
Aqui vive um Galaxeiro! |
Ref.: https://historiadogalaxie.blogspot.com/
Ocorreu um erro de reconhecimento de sua tela. Atualize a página.