Postado em 16/06/2020 18:47 - Edição: Marcos Sefrin
A taxa de mortalidade por coronavírus – o número de mortos sobre o total de casos confirmados – varia de acordo com o lugar e a população.
– Em nível mundial a taxa de mortalidade, ou "taxa de letalidade", dobrou desde março.
– Business Insider perguntou a três epidemiologistas por que a taxa de mortalidade aumentou e eles destacaram dois problemas de cálculo: os parâmetros são baseados em testes e há um atraso nos dados.
Em muitos países, as curvas para o coronavírus estão se achatando, pelo menos por enquanto.
A reportagem é de Morgan McFall-Johnsen, publicada por Business Insider, 15-06-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Mesmo assim, a taxa de letalidade global aumentou significativamente desde março, quando girava em torno de 3,4%. Terça-feira foi de 5,8%, segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde, e de meados de abril até o final de maio ficou em torno de 7%.
A tendência contrasta com muitas previsões inicialmente feitas pelos especialistas: o aumento dos testes teria resultado no registro de casos mais leves, com uma diminuição na taxa de mortalidade.
Mas parece que os testes não aumentaram o suficiente para causar uma trajetória descendente significativa.
Interpretar a taxa de mortalidade não é tão fácil
Enquanto os governos se preparam para novas ondas de contágio, considerando novas alternativas ao lockdown, uma pergunta fundamental determina como eles procederão: qual a real mortalidade da Covid-19?
A resposta mais imediata levaria à taxa de letalidade, um cálculo do número de mortes conhecidas sobre o número total de casos confirmados.
Porém, considerando que os casos de coronavírus progridem ao longo de um período de semanas e que os números mudam continuamente, a taxa de mortalidade está sempre em evolução.
Segundo alguns epidemiologistas, dado que as taxas de mortalidade são fortemente influenciadas por testes e taraso no registro de casos e óbitos, elas não representam parâmetros confiáveis do balanço do vírus ao longo do tempo.
Muitos países não realizam testes suficientes
Questionado sobre o aumento da taxa de mortalidade global, Ben Cowling, chefe de epidemiologia e bioestatística da Escola de Saúde Pública da Universidade de Hong Kong, fornece uma resposta simples: "Poucos testes de casos leves".
Em geral, quanto mais casos são registrados - incluindo pessoas com sintomas leves ou assintomáticos - menor é a taxa de mortalidade.
Nesse sentido, as taxas de letalidade "são mais um indicador de quantos testes são realizados e de quantos casos são detectados", disse John Edmunds, professor de modelos matemáticos em epidemiologia na Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, a Business Insider.
"Para comparação, observem Cingapura e a Coreia do Sul, onde muitos testes foram realizados", disse Cowling.
A Coreia do Sul, que testou mais de um milhão de pessoas, separou-se claramente das outras nações na detecção de casos no nível inicial e no rastreamento de contatos. Enquanto em fevereiro os laboratórios dos EUA aguardavam por semanas as instruções sobre como ajustar os kits de teste defeituosos, a Coreia do Sul estava testando dezenas de milhares de pessoas.
Na quarta-feira, 3 de junho, a taxa de mortalidade no país era de 2,3%. Cingapura, também elogiada pela ampla aplicação de testes, teve uma taxa de mortalidade de apenas 0,1%.
Os poucos testes realizados em outros países, como a Suécia e os Estados Unidos tornam suas contagens dos casos erroneamente baixas. Nos EUA, especialistas acreditam que a contagem oficial dos casos confirmados deve ser decuplicada para obter uma estimativa correta dos contágios reais em nível nacional.
"É impossível registrar todos os casos, embora provavelmente tenhamos registrado a maioria das mortes", disse Edmunds.
Quando os países não registram a maioria dos casos, os casos fatais parecem representar uma porcentagem maior sobre os contágios do que realmente são. Assim, nações como os EUA e a Suécia - que têm taxas de letalidade de 5,7% e 10,3%, respectivamente - estariam inflando a taxa de mortalidade global.
As taxas de mortalidade podem parecer mais altas após o pico da epidemia.
As novas mortes registradas agora geralmente dizem respeito a pessoas que ficaram doentes três ou quatro semanas atrás; ou seja, quando a difusão em muitos países ainda estava no pico. Portanto, mesmo quando a contagem diária de casos diminui, a contagem diária de mortes pode continuar aumentando.
"A mortalidade aumentará de modo falso quando os casos diminuirão", disse William Hanage, epidemiologista da Escola de Saúde Pública TH Chan de Harvard, ao Business Insider. "Isso acontece porque se calculam as mortes reconduzíveis a quando a epidemia estava aumentando, ou pelo menos era mais intensa do que agora, enquanto as contagens totais dos casos são relativas ao presente".
O fato de o número de mortes ficar aquém da contagem dos casos pode resultar por um breve período de tempo em uma taxa de mortalidade muito alta. Isso é o que teria acontecido em abril e maio (e um número limitado de testes pode ter amplificado o efeito).
Para obter um quadro mais preciso da mortalidade do vírus, disse Edmunds, "os atrasos devem ser levados em consideração, portanto dividir as mortes atuais pelos casos que ocorreram três ou quatro semanas atrás".
Esses cálculos indicam que o vírus matou aproximadamente 1% das pessoas que resultaram positivas ao teste quatro semanas atrás. Novamente, no entanto, como os testes não incluem pessoas com sintomas leves ou assintomáticas, a proporção real de mortes entre pessoas infectadas é provavelmente muito menor.
Especialistas como Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas, também estimaram que a taxa de mortalidade real seja próxima de 1%. Um estudo realizado em maio pela Universidade de Washington sugere que, se todos os contágios fossem conhecidos, a verdadeira taxa de mortalidade para os estadunidenses com sintomas seria de cerca de 1,3%.
Muito abaixo daquela sugerida pela taxa de mortalidade dos casos testados, mas 13 vezes superior da taxa de mortalidade da gripe sazonal.
Ref.: http://www.ihu.unisinos.br/
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