Postado em 28/07/2020 11:59 - Edição: Marcos Sefrin
Embora possa não parecer, escovar bem os dentes envolve uma técnica
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Quando encontramos uma pessoa com uma doença cardiovascular, Alzheimer ou diabetes, não pensamos que ela possa não ter escovado os dentes corretamente.
Associamos a falta de higiene bucal a problemas na boca, como cáries, inflamação das gengivas e mau hálito, mas não a complicações em outras partes do corpo.
Ainda assim, uma boa saúde bucal é essencial para um ótimo funcionamento de todo o corpo.
As doenças bucais podem contribuir para o desenvolvimento de doenças sistêmicas.
De fato, há novas evidências de que as bactérias da boca podem chegar a outros lugares do corpo e causar problemas. Inclusive em nosso cérebro!
Em geral, cada pessoa tem entre 100 e 200 espécies de bactérias orais das 700 espécies identificadas.
A única maneira de evitar cáries e periodontite — uma infecção nas gengivas — é manter uma boa higiene bucal - Direito de imagemGETTY IMAGES
Quando perguntamos a uma pessoa quantas bactérias ela acha que existem por mililitro de saliva, ela geralmente subestima a resposta correta: temos cerca de 100 milhões de bactérias por mililitro de saliva.
Essas bactérias vivem nos dentes, na língua, gengivas e outras superfícies orais.
Ali, elas formam comunidades estruturadas, como a placa dentária e o revestimento de língua branca.
Mas calma!
Além de mostrar um sorriso melhor, a saúde bucal é importante para uma boa saúde em geral - Direito de imagemGETTY IMAGES
Em geral, esses microrganismos serão nossos amigos enquanto cuidarmos deles.
Em primeiro lugar, eles nos protegem contra patógenos (organismos que podem causar doenças) externos.
Efeitos positivos
Algumas bactérias da microbiota oral aumentam e outras a reduzem quando há cáries e doenças periodontais, como gengivite e periodontite - Direito de imagemGETTY IMAGES
Quando uma nova bactéria entra na boca, é muito difícil ela sobreviver porque existe um exército de bactérias que habita aquele espaço.
Além disso, bactérias orais benéficas convertem nitrato de frutas e verduras em nitrito.
Isso pode ter efeitos positivos no corpo, como redução da pressão arterial e efeitos antidiabéticos.
Normalmente, nossas próprias bactérias não são patogênicas, mas podem causar doenças bucais em pessoas saudáveis por conta de hábitos pouco saudáveis.
Uma dieta não saudável ou falta de higiene bucal podem causar um desequilíbrio: alguns tipos de bactérias aumentam em número e outros, diminuem.
Isso é chamado de "disbiose".
À esquerda, um dente normal, à direita, outro coberto com placa que causou inflamação nas gengivas - Direito de imagemGETTY IMAGES
Por exemplo, se consumimos açúcar, as bactérias localizadas na placa dental que ingerem açúcar aumentam em número.
Estas convertem o açúcar em ácidos orgânicos.
Algumas produtoras de ácido são muito resistentes, enquanto as mais sensíveis morrem.
Se consumimos muito açúcar, as bactérias que comem açúcar e produzem ácido aumentam tanto na placa dental que a acidificação danifica o esmalte.
Com o tempo, isso pode produzir cáries.
A placa, inimiga do corpo
Outro exemplo mais relevante para doenças sistêmicas são as doenças periodontais.
Devido à falta de uma higiene bucal adequada, a placa dental se acumula.
Na periodontite, as bactérias da placa dentária podem atingir outras partes do corpo e causar complicações - Direito de imagemGETTY IMAGES
Então, nosso corpo reage com a inflamação das gengivas, o que inclui um aumento nos componentes antibacterianos e células do sistema imunológico para reduzir o número de bactérias.
Se não tratarmos essa inflamação, as bactérias mais resistentes à resposta inflamatória podem aumentar em número, enquanto as mais sensíveis morrem.
Além disso, devido à inflamação, são produzidas mais proteínas que provêm de um soro gengival semelhante ao sangue, que sai do sulco gengival.
Elas se transformam em alimento para algumas bactérias, estimulam seu acúmulo e, assim, criam um círculo vicioso.
Se a inflamação inicial, que chamamos de gengivite e geralmente é reversível não for tratada, uma inflamação crônica e destrutiva pode se desenvolver: a periodontite.
Tudo começa com a placa e as cáries - Direito de imagemGETTY IMAGES
A periodontite causa a perda de tecido humano e a formação de bolsas periodontais cheias de bactérias ao redor dos dentes.
Outras doenças
Existem evidências de que a periodontite pode contribuir para o desenvolvimento de diferentes complicações e doenças sistêmicas.
Ter periodontite aumenta o risco de, por exemplo, artrite reumatoide, aterosclerose, hipertensão, Alzheimer, diabetes e complicações no parto.
Em pessoas com periodontite, diferentes mecanismos podem contribuir para o desenvolvimento de outras doenças.
Por exemplo, a grande quantidade de moléculas pró-inflamatórias produzidas pelas células humanas nas gengivas inflamadas pode atingir outras partes do corpo e causar reações inflamatórias nessas áreas.
Ir ao dentista para tratar a periodontite é importante para reduzir as chances dessa inflamação.
Além disso, descobriu-se que algumas bactérias que aumentam durante a periodontite e os compostos produzidos por elas podem atingir diferentes partes do corpo pelo sangue ou via gastrointestinal.
Essas bactérias foram detectadas dentro de células imunológicas que circulam no sangue, na placa aterosclerótica, placenta e tumores intestinais, entre outros.
A bactéria mais estudada associada à periodontite é a Porhyromonas gingivalis e foram encontrados vários mecanismos que explicam como ela pode contribuir para a inflamação destrutiva das gengivas e o aparecimento de doenças sistêmicas.
A escovação deve impedir o acúmulo da placa bacteriana, uma camada incolor composta de bactérias e açúcares que adere aos dentes. - Direito de imagemGETTY IMAGES
Às vezes, ela é encontrada em pequenas quantidades em pessoas saudáveis, mas é comum em bolsas periodontais de pessoas com periodontite.
Recentemente, um grupo de pesquisadores estudou o cérebro de pessoas que morreram com Alzheimer.
Eles encontraram o DNA da Porhyromonas gingivalis e enzimas chamadas gengivinas, que degradam as proteínas humanas.
Além disso, a quantidade dessas enzimas foi correlacionada com a gravidade da doença.
Os pesquisadores então administraram grandes quantidades dessa bactéria em ratos, e o patógeno conseguiu colonizar o cérebro.
Os animais desenvolveram sintomas relacionados à doença de Alzheimer, mas aqueles que receberam tratamento com gengivina, um inibidor desenvolvido pelos autores do estudo, se saíram melhor.
Uma conclusão foi que a Porhyromonas gingivalis poderia atingir o cérebro e, ao longo dos anos, contribuir para o desenvolvimento da doença de Alzheimer.
O corpo humano saudável tem uma relação mutuamente benéfica com a microbiota humana, incluindo a microbiota oral.
Devido à higiene inadequada ou dieta pouco saudável, as bactérias orais podem causar complicações na boca e no resto do corpo.
Duas vezes ao dia
A American Dental Association recomenda escovar os dentes duas vezes por dia com creme dental com flúor (1.000 - 1.500 ppm), limpar diariamente os dentes e visitar o dentista regularmente.
As doenças bucais não devem ser deixadas sem tratamento.
Nesse sentido, nos Estados americanos em que os tratamentos bucais são reembolsados, os seguros gastam menos dinheiro com diabetes, derrames e ataques cardíacos.
Lembre-se de que outros fatores, como tabagismo (e também cigarros eletrônicos) e a suscetibilidade genética, aumentam o risco de desenvolver doenças bucais e sistêmicas.
Ainda assim, uma boa higiene bucal é a chave para prevenir doenças orais.
Além de mostrar um sorriso melhor, é importante manter uma boa saúde em todo o corpo.
*Os autores deste artigo são Bob T. Rosier, estudante de pós-doutorado da Fisabio, e Alejandro Mira Obrador, pesquisador sênior da Fisabio.
Este artigo foi publicado originalmente na The Conversation. Você pode lê-lo aqui.
Matéria feita por Bob T. Rosier e Alejandro Mira ObradorThe Conversation*
Ref.: https://www.bbc.com/portuguese/
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