Postado em 27/06/2019 11:05 - Edição: Marcos Sefrin
A impunidade dos colonos israelenses, cuja intimidação impede que os palestinos permaneçam em suas terras, deve parar em nome do respeito ao direito internacional
Créditos da foto: Palestinos amputados, feridos por franco-atiradores durante a "Marcha de Retorno", em Gaza (Thomas Coex/AFP)
Os anos passam e a situação se deteriora. Há muito tempo atrás, a Palestina ainda estava na primeira página de nossos jornais e monopolizava os debates internacionais. Agora, o destino dos palestinos não interessa mais muita gente. No entanto, a violência diária da ocupação e da colonização israelense contra os palestinos nunca foi tão forte. O componente econômico do plano de paz para o Oriente Médio, apresentado esta semana pelos líderes dos EUA no Bahrein, não deve melhorar a situação de um impasse de setenta anos.
Pior ainda, deve confirmar as preocupações que nós, agentes humanitários presentes no terreno, temos: o respeito pelos direitos fundamentais dos palestinianos não é uma prioridade. Além do bloqueio da Faixa de Gaza, a Cisjordânia e Jerusalém Oriental estão no centro de intensa colonização. Apesar das resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas (1) lembrando a ilegalidade dos assentamentos, Israel continua a incentivá-los nos territórios palestinos ocupados desde a Guerra dos Seis Dias, em 1967. Existem atualmente mais de 620.000 colonos 12% da população na Cisjordânia e 40% em Jerusalém Oriental (2). Após a anexação ilegal de Jerusalém Oriental em 1980, a comunidade humanitária está agora preocupada com o número de leis e projetos de lei que refletem uma anexação de fato da maior parte da Cisjordânia. Para conseguir isso, o governo israelense, liderado pela direita radical, depende de colonos que chefiam poderosos partidos políticos e goza do apoio inabalável do governo dos EUA. Sob a administração Trump, a construção de assentamentos foi redobrada: somente em 2018, mais de 15.800 novos apartamentos foram aprovados nas colonias pelo governo israelense (3).
Em um contexto internacional e israelense propício à colonização e à ocupação, os colonos israelenses se sentem todos habilitados. A violência que eles exercem contra os palestinos é diária na Cisjordânia e Jerusalém Oriental: violência psicológica e física, queima de casas e bens, ataques a carros, destruição de oliveiras ou plantações, assédio ... Os ataques e a intimidação de colonos visam evitar que os palestinos cultivem ou permaneçam em suas terras, facilitando os procedimentos de confisco dessas terras pelo exército israelense. Essa situação permite assim que o governo israelense construa novos assentamentos ou amplie os já existentes.
Somente em 2018, mais de 2.000 oliveiras pertencentes a palestinos foram danificadas. Em janeiro, um palestino foi morto por um grupo de colonos e outros 12 ficaram feridos em Al-Mughayyir, perto de Ramallah, na Cisjordânia. Em 2015, a comunidade internacional ficou comovida com o destino de uma família palestina na aldeia de Duma, que viu três de seus membros (incluindo um bebê de 18 meses) morrerem no incêndio de uma casa efetuado por colonos.
Esses incidentes têm um impacto direto na saúde e na vida cotidiana dos palestinos: transtornos psicológicos, aumento do estresse causado pela violência, declínio do progresso educacional para crianças e adolescentes palestinos, prejuízos ao desenvolvimento da vida cotidiana (incapacidade de cumprir responsabilidades de trabalho ou familiares) ...
No entanto, a impunidade reina: 93,4% das investigações sobre danos às oliveiras foram abandonadas pela polícia israelense. Desde 2005, apenas 3% das investigações após queixas de palestinos feridos por cidadãos israelenses resultaram em condenações (4). Os colonos israelenses são protegidos pelo governo e pelos soldados israelenses. Eles não intervêm quando os ataques dos colonos ocorrem diante de seus olhos. Pior ainda, os soldados muitas vezes dão apoio aos colonos, prendendo violentamente os palestinos que tentam defender suas terras ou lançando gás lacrimogêneo em casas e escolas palestinas.
Esta situação insustentável para os palestinos deve parar. Sua vida não é um jogo. O respeito ao direito internacional não é negociável. As Nações Unidas e a comunidade internacional devem exigir respeito pelas resoluções das Nações Unidas que passam pelo fim da colonização e da ocupação israelenses. Esta é a única solução para finalmente alcançar a paz nesta parte do mundo.
*Publicado originalmente no Libération | Tradução de Aluisio Schumacher
MATÉRIA FEITA Por Philippe de Botton, Médecins du Monde, Thierry Mauricet, Première Urgence Internationale e François Leroux, plataforma de ONGs francesas para a Palestina DIA 25/06/2019 12:38
Ref.: https://www.cartamaior.com.br/
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