Postado em 20/02/2019 07:06 - Edição: Marcos Sefrin
SOTERRADOS PELA LAMA
Maioria das vítimas de desastre com lama tinha filhos, sobretudo crianças
Sem volta. Leonardo, filho do meio de Perterson Ribeiro, que morreu na tragédia da Vale, espera o pai até hoje no portão de casa | Foto: Fred Magno
Dor. Valentina, 4, perdeu o pai, o bombeiro hidráulico Francis Marques, 34, em rompimento de barragem
| Foto: arquivo pessoal
A pequena Letícia, 6, ficava atenta ao barulho do portão de casa sendo aberto, todos os dias, às 18h30, quando o pai dela, o auxiliar de almoxarifado Peterson Firmino Nunes Ribeiro, 35, chegava do trabalho. Após o rompimento da barragem I da mina de Córrego do Feijão, em Brumadinho, na região metropolitana, que matou Ribeiro e outras 156 pessoas, e de ver as imagens da tragédia na TV, a menina passou a ter pesadelos com um zumbi e acorda de madrugada, aos gritos. “Vou para o banheiro, grito em silêncio. Choro escondido para que as crianças não sofram ainda mais”, conta a mãe da menina, a frentista Michele Aparecida dos Santos, 35, que divide a dor com outros dois filhos, de 11 e 15 anos.
O desastre da Vale deixou ao menos 119 órfãos, filhos dos 134 mortos identificados até o dia 7 de fevereiro. O número pode ser muito maior, visto que 165 pessoas seguem desaparecidas. A maioria das vítimas tinha filhos, sobretudo crianças: o técnico de planejamento e controle Dennis Augusto da Silva, 34, morreu deixando gêmeos de 10 meses, e a mulher dele, Juliana Resende, mãe dos pequenos, está desaparecida. Em alguns casos, os pais não tiveram oportunidade nem de conhecer os filhos – o técnico em eletromecânica Daniel Muniz Veloso e o mecânico Ednilson dos Santos Cruz deixaram as mulheres grávidas.
Por uma semana, até o corpo de Peterson Ribeiro ser localizado, Letícia alimentou a esperança de ver o pai entrar pelo portão para eles brincarem de esconde-esconde, como sempre faziam. “Ela ouvia o barulho do portão e comemorava a chegada do pai. Meu marido vinha se escondendo pela casa, e ela surgia no alto da escada e gritava. Ele fingia um susto, jogava-se no chão e dizia: ‘Você quase me mata do coração’”, lembra Michele.
Ref.: https://www.otempo.com.br/
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